As Testemunhas de Jeová e a vida celestial

“Felizes os cônscios de sua necessidade espiritual, porque a eles pertencem o reino dos céus.”
- Mateus 5:3

Segundo e ensino da Torre de Vigia, Jesus foi designado por Deus como rei nos céus no ano de 1914. Como vivemos nos últimos dias, dentro em breve, Ele assumirá pleno domínio sob o planeta Terra. Cristo não governará sozinho. Ele escolheu cento e quarenta e quatro mil seres humanos para irem para o céu governar junto com ele. Quanto ao restante da humanidade, muitos serão destruídos eternamente, os que se esforçam hoje em seguir os ensinos da “organização de Jeová” tem a perspectiva de receberem a vida eterna na terra. Estes são os membros da “grande multidão”, identificados também pelo termo “outras ovelhas”.

É também ensinado às Testemunhas que nenhum dos servos fiéis de Deus da era pré-cristã tem esperança celestial. Assim, personagens bíblicos tais como Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Jó e João Batista, não formam e nem irão para o céu. Nunca verão literalmente a Deus, mas serão ressuscitados para a vida eterna na Terra.

As Testemunhas são levadas a crer que existem hoje vivos na terra cerca de oito mil pessoas com esperança celestial. Estes são identificados pelos termos “ungidos” ou “pequeno rebanho”. Todos são Testemunhas de Jeová. A maioria deles já estão bem idosos, pois a Torre de Vigia ensinava que a esperança celestial havia completada em 1935, ano em que se começou ajuntar a “grande multidão” composta dos que viverão para sempre no paraíso terrestre.

A respeito desse assunto, a Torre de Vigia publicou:

“Parece evidente que a chamada celestial, em geral, foi completada por volta do ano de 1935, quando se passou a entender corretamente que a esperança da “grande multidão” de Revelação 7:9-17 é terrestre. Resultou em ser exatamente assim como Jeová predisse. Conforme mostra Revelação 7:3, 4, haveria uma ‘selagem’ final dos remanescentes do Israel espiritual. Mas, durante o tempo atual, pouco antes da “grande tribulação”, manifestar-se-ia uma “grande multidão” sem limite de número. Ela reteria a sua esperança natural de viver na terra, não ‘nascendo de novo’ com vistas à vida celestial. — Salmo 115:16; João 3:1-8”. (w82 15/2 pp. 24-25 par. 15)

“Os que pertencem a Cristo” são os 144.000 discípulos fiéis escolhidos para dominarem com ele no Reino”. (pe cap. 20 p. 172 par. 20)

Jesus disse em João 3:3: “Digo-te em toda a verdade: A menos que alguém nasça de novo, não pode ver o reino de Deus”. No entanto, conforme vimos na primeira citação acima, o ensino oficial da Torre de Vigia é que a vasta maioria das Testemunhas não precisa nascer de novo, visto que não tem esperança celestial. Já a segunda citação mostra que “Os que pertencem a Cristo são os 1444.000”. Ao ler isso, uma séria pergunta surgiu em minha mente: E a grande multidão não pertence a Cristo?”

Em 1 Timóteo 2:5 está registrado: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e homens, um homem, Cristo Jesus”. Este versículo identifica a Jesus Cristo claramente como nosso mediador. Note agora o que afirma a Torre de Vigia:

"Foi Moisés o mediador entre Jeová Deus e a humanidade em geral? Não, ele foi o mediador entre o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e a nação dos descendentes carnais deles. Do mesmo modo, o Moisés Maior, Jesus Cristo, não é o Mediador entre Jeová Deus e toda a humanidade. Ele é o Mediador entre seu Pai celestial, Jeová Deus, e a nação do Israel espiritual, que está limitado a 144.000 membros." – (Segurança Mundial sob o ‘Príncipe da Paz’ (1986), página 10, parágrafo 16).

“...em estrito sentido bíblico, Jesus é o “mediador” apenas dos cristãos ungidos”. (w79 15/9 p. 32).

Como Testemunha de Jeová, li a Bíblia por diversas vezes, e assim familiarizei-me com diversas passagens que mostram de maneira inequívoca o conceito correto sobre a vida celestial. Sempre que me deparava com textos conflitantes com aquilo que me foi ensinado pela organização, tirava tempo para pesquisas adicionais. Ou seja, recorria às publicações da Torre de Vigia, a fim de ajustar o entendimento que a leitura bíblica me proporcionava às explicações fornecidas pelo “escravo fiel e discreto”. No entanto, mesmo recorrendo exaustivamente às explicações da Torre de Vigia em suas A Sentinelas, Despertais, livros, brochuras, etc, a medida em que eu lia a Bíblia, mais convicto eu ficava dos graves erros doutrinários ensinados pelas Testemunhas de Jeová sobre a vida celestial.”

Embora a Bíblia realmente fale de “outras ovelhas”, ela é clara em mostrar que Jesus as traria, e for fim, haveria “um só rebanho, um só pastor”. (João 10:16) Ora, se as “outras ovelhas” viverão eternamente na Terra, e o “pequeno rebanho” viverá no céu”, isto de forma alguma parece refletir o conceito expresso por Jesus de haver “um só rebanho”.

"Há um só corpo, e um só espírito, assim como também fostes chamados em uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo." Nos diz Efésios 4:4-5. De acordo com o versículo há “uma só esperança” e não duas: uma terrestre e outra celeste.

As Testemunhas de Jeová citam frequentemente Revelação (Apocalipse) 7:4, e afirmam que este versículo refere-se aos que viverão no céu. Em relação à Revelação (Apocalipse) 7:9 afirmam que este versículo refere-se aos que viverão na Terra. No entanto, a leitura de Revelação 7:9, indica que a grande multidão viverá não na Terra, pois o versículo nos informa: “Depois destas coisas eu vi, e, eis uma grande multidão, que nenhum homem podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados de compridas vestes brancas; e havia palmas nas suas mãos. O texto nos informa que o apóstolo João viu a grande multidão em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Onde estão o trono e o Cordeiro? Não estão no céu? Além disso, o próprio contexto do capítulo 7 de Revelação nos mostra que a grande multidão servirá no templo de Deus: “É por isso que estão diante do trono de Deus; e prestam-lhe serviço sagrado, dia e noite, no seu templo”. Onde fica o templo de Deus? Revelação 11:19 responde: “E abriu-se o [santuário do] templo de Deus, que está no céu”. Onde estará a grande multidão vista por João diante do trono e diante do Cordeiro? A resposta encontra-se expressa em Revelação 19:1: “Depois destas coisas ouvi o que era como a voz alta duma grande multidão no céu. Disseram: “Louvai a Jah! A salvação, e a glória, e o poder pertencem ao nosso Deus”.

Além disso, apoia a Bíblia a ideia de que os servos fiéis de Deus da era pré-cristã nunca estarão no céu e jamais verão a Deus? A leitura dos textos abaixo é por si só o suficiente para nos fazer chegar à conclusão correta.

“Pela fé Abel... Enoque... Noé... Abraão quando chamado obedeceu... morava em tendas, com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesmíssima promessa. Pois aguardava a cidade que tem verdadeiros alicerces, cujo construtor e fazedor é Deus... Sara... Todos estes procuram alcançar um lugar melhor, isto é, um pertencente ao céu. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque aprontou para eles uma cidade” (Hebreus 11: 4-15).

“Mas, eu vos digo que muitos virão das regiões orientais e das regiões ocidentais e se recostarão à mesa junto com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus” (Mateus 8:11).

"Ali é que haverá o [vosso] choro e o ranger de [vossos] dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas, no reino de Deus, mas vós mesmos lançados fora". (Lucas 13:22).

Jó tinha a seguinte esperança:

“E eu mesmo bem sei que meu redentor está vivo, E que, vindo depois [de mim], levantar-se-á sobre [o] pó. E depois da minha pele, [que] esfolaram — isto! Ainda que reduzido na minha carne, observarei a Deus,  A quem até mesmo eu observarei, E [a quem] os meus próprios olhos hão de ver...” (Jó 19:25-27).

Segundo a Bíblia a esperança celestial não está limitada a apenas 144.000 pessoas. A promessa de Cristo ainda é válida:

“Não se aflijam os vossos corações. Exercei fé em Deus, exercei fé também em mim. 2 Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não, eu vos teria dito, porque vou embora para vos preparar um lugar. 3 Também, se eu for embora e vos preparar um lugar, virei novamente e vos acolherei a mim, para que, onde eu estiver, vós também estejais”. (João 14:1-3)

1 Tessalonicenses 4:15-17 mostra como isso ocorrerá. Está registrado: “ . . .nós, os viventes, que sobrevivermos até a presença do Senhor, de modo algum precederemos os que adormeceram [na morte];  porque o próprio Senhor descerá do céu com uma chamada dominante, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, e os que estão mortos em união com Cristo se levantarão primeiro.  Depois nós, os viventes, que sobrevivermos, seremos juntamente com eles arrebatados em nuvens, para encontrar o Senhor no ar; e assim estaremos sempre com [o] Senhor.”

1 Coríntios 15: 51-53 esclarece ainda mais: “Nem todos adormeceremos [na morte], mas todos seremos mudados, 52 num momento, num piscar de olhos, durante a última trombeta. Pois a trombeta soará, e os mortos serão levantados incorruptíveis, e nós seremos mudados. 53 Pois isto que é corruptível tem de revestir-se de incorrupção e isto que é mortal tem de revestir-se de imortalidade”.

No capítulo 24 de Mateus, versículos 40 e 41 é dito que: “Dois homens estarão então no campo: um será levado junto e o outro será abandonado;  duas mulheres estarão moendo no moinho manual: uma será levada junto e a outra será abandonada”.

Nós, seres humanos que vivemos na era cristã, temos a mesma esperança dos servos de Deus da era pré-cristã conforme vimos em Hebreus 11: 4-15. Compare tal passagem com o que está registrado em Filipenses 3:20-21:

“Quanto a nós, a nossa cidadania existe nos céus, donde também aguardamos ansiosamente um salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21 o qual remodelará o nosso corpo humilhado para ser conforme ao seu corpo glorioso, segundo a operação do poder que ele tem, sim, de sujeitar todas as coisas a si mesmo”.

O texto bíblico é tão claro e harmônico que dispensa comentários. A comparação do que diz as Sagradas Escrituras com o que é ensinado pelas Testemunhas de Jeová, mostra que a teologia delas concernente à vida celestial não está alicerçada sob uma base segura, devendo, portanto ser rejeitada por todos aqueles que se deixam guiar pela Palavra de Deus.

 1444.000 é um número literal?

Segundo a explicação da Torre de Vigia, existem diversos números simbólicos em Revelação. Ela ensina por exemplo que os "24 anciãos" não são literais mas "representam os cristãos ungidos que já entraram na sua gloriosa herança celestial" (w98 1/9 p. 11 par. 12) . No livro "Revelação Seu Grandioso Clímax Esta Próximo" cap. 4 p. 19, foi publicado um quadro mostrando diversos números como o 6, o 7, o 10 e o 12, todos considerados com simbólicos pela Torre:

"2 Indica confirmar-se solidamente um assunto.
(Revelação 11:3, 4; veja Deuteronômio 17:6.)

3 Denota ênfase. Indica também intensidade. (Revelação 4:8;
8:13; 16:13, 19)

4 Indica universalidade ou quadrangulação em simetria.
(Revelação 4:6; 7:1, 2; 9:14; 20:8; 21:16)

6 Indica imperfeição, algo anormal, monstruoso.
(Revelação 13:18; veja 2 Samuel 21:20.)

7 Indica uma divinamente determinada inteireza, quer
referindo-se aos propósitos de Jeová, quer aos de Satanás.
(Revelação 1:4, 12, 16; 4:5; 5:1, 6; 10:3, 4; 12:3)

10 Indica totalidade ou inteireza em sentido físico,
referente às coisas na Terra. (Revelação 2:10; 12:3; 13:1;
17:3, 12, 16)

12 Indica uma organização divinamente constituída, quer nos
céus, quer na Terra. (Revelação 7:5-8; 12:1; 21:12, 16;
22:2)

24 Indica o arranjo organizacional abundante (dobrado) de
Jeová. (Revelação 4:4)"

A Torre de Vigia interpreta todo o contexto de Revelação 7:4 a 8 como sendo simbólico. Interpretam as tribos como simbólicas e as porções de 12 mil de cada tribo também como simbólicas, incoerentemente porém, interpretam apenas o número 144.000 como literal. Seria bem mais lógico, já que entendem haver um grande simbolismo em Revelação 7: 4 a 8, concluir que o número 144.000 também é simbólico como diversos outros números encontrados em Revelação.

Se entendermos que os 144.000 são literais, a fim de haver coerência, devemos entender as porcões de 12 mil de cada tribo, também como literais, e as próprias tribos como sendo carnais, literais. Mesmo assim, os 144.000 não seria o único grupo que iria para o céu, pois conforme mostrei em "As Testemunhas de Jeová e a Vida Celestial" o contexto em Revelação 7:9 a 17, ensina claramente que João viu a grande multidão também no céu.

A Bíblia fala de reinar com Cristo durante os mil anos em Revelação 20:6. Os versículos 2 e 10 do capitulo 21, fala da nova “Jerusalém descendo do céu”. No entanto, Revelação 22:5 mostra que o reinar com Cristo continurá após o milênio. Lá está claramente escrito que “reinarão para todo o sempre”.

De qualquer forma o fato é que independentemente de o número 144.000 ser simbólico ou literal, o número total de salvos é ainda maior, pois na mesma visão do capítulo 7 do Apocalipse, João viu "uma grande multidão, que nenhum homem podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados de compridas vestes brancas e havia palmas nas suas mãos. E gritavam com voz alta, dizendo: “[Devemos] a salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro.” 

Essas são informações disponíveis nas Escrituras. Reconheço que a Bíblia não fornece todos os detalhes concernente a vida futura. Tentar explicar satisfatoriamente todas as indagações que esse assunto trás é correr o risco de emitirmos nossos próprios conceitos, é correr o risco de irmos "além das coisas que estão escritas" (1 Cor. 4:6). O mais sensato é agirmos como o apóstolo Paulo que disse em seus dias: “temos conhecimento parcial... mas, quando chegar o que é completo, será eliminado o que é parcial. .. atualmente vemos em contorno indefinido por meio dum espelho de metal, mas então será face a face. Atualmente eu sei em parte, mas então saberei exatamente, assim como também sou conhecido exatamente” (1 Coríntios 13: 9-12). Assim, é importante reconhecermos nossa limitação no momento, e nunca nos esquecermos de que “o que move o mundo não são as respostas, mas sim, as perguntas”.

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