As Testemunhas de Jeová e seus anos "proféticos"




 “Enquanto estava sentado no Monte das Oliveiras, aproximaram-se dele os discípulos, em particular, dizendo: “Dize-nos: Quando sucederão estas coisas e qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas”?” - Mateus 24:3


Talvez devido à minha formação acadêmica, (o que me possibilitou acesso a diversas fontes historóricas), a cronologia bíblica conforme apresentada pelas Testemunhas de Jeová tornou-se para mim o principal ponto de preocupação. Creio que este tenha sido o assunto que estudei mais extensivamente, e que fez deparar-me de forma clara com a realidade de que muitos ensinos provindos da Torre de Vigia são obras não de sério estudo bíblico, mas sim de errôneas e presunçosas especulações humanas. 


Em relação ao prometido retorno de Jesus, observe nas citações abaixo, extraídas das revistas A Sentinela e Despertai! o que aprendi em meu estudo da Bíblia com as Testemunhas de Jeová:



Jesus já está presente e governando como Rei de modo invisível no céu desde 1914”. (w08 15/2 p. 25 par.17).


Tendo-se estabelecido biblicamente que a volta de Jesus tem de ser invisível, poderia dar-se que ele já voltou e que o mundo em geral não está cônscio disto? ...Seus discípulos indagaram: “Qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?” (Mat. 24:3) ... [Jesus] Predisse que o “sinal” incluiria guerras, escassez de víveres, pestes, terremotos, crescente anarquia e o esfriamento do amor da maioria. (Mat. 24:7-14, Luc. 21:10, 11 ...um de seus primeiros atos ao lhe ser confiado “o reino do mundo” seria expulsar do céu a Satanás, o Diabo, “o governante deste mundo”. Como resultado, “Ai da terra e do mar”, afirma Bíblia, “porque desceu a vós o Diabo, tendo grande ira, sabendo que ele tem um curto período de tempo”. — Rev. 11:15; 12:7-12; João 12:31.
O fato de que seria curto o tempo que resta ao Diabo, até ser posto fora de ação, mostra que o mundo sob seu controle entraria em seus “últimos dias”. A respeito destes “últimos dias”, escreveu O apóstolo Paulo: “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias haverá tempos críticos, difíceis de manejar. Pois os homens serão amantes de si mesmos, amantes do dinheiro, pretensiosos, soberbos, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, desleais, sem afeição natural, . . . mais amantes de prazeres do que amantes de Deus, tendo uma forma de devoção piedosa, mostrando-se, porém, falsos para com o seu poder.” (2Tim. 3:1-5) Não vemos o cumprimento destas palavras atualmente? Sim; e também não é verdade que as condições aqui descritas estão em especial evidência desde o ano de 1914 E. C.? Este é o mesmíssimo ano que a cronologia bíblica aponta como o começo da presença de Jesus em glória e também dos “últimos dias”.

Outra evidência digna de nota de Jesus já ter chegado invisivelmente em glória é a separação das pessoas em dois grupos distintos... Na verdade, então, a volta de Cristo não é apenas um assunto de interesse doutrinal. Jesus Cristo se acha agora presente, separando todas as pessoas para o seu lado direito de favor ou para seu lado esquerdo de desfavor”.  (g74 22/1 pp. 5-6)

Segundo notou, a Torre de Vigia ensina que Cristo já veio em 1914. Os últimos dias marcados por guerras, fomes e pestilências, começaram desde então com a expulsão de Satanás do céu.
Com respeito à primeira ressurreição aprendi que:
“... ela já está em andamento... os ungidos que morrem antes do Armagedom são ressuscitados entre 1914 e o Armagedom... Podemos dizer com mais exatidão quando começa a primeira ressurreição?... Visto que Jesus foi entronizado por volta do início de outubro de 1914, será que poderíamos concluir que a ressurreição dos seus fiéis seguidores ungidos começou três anos e meio depois disso, em meados do primeiro semestre de 1918? Essa é uma possibilidade interessante. Embora isso não possa ser confirmado diretamente na Bíblia, está em harmonia com outros textos bíblicos que indicam que a primeira ressurreição teve início pouco depois que começou a presença de Cristo”  (w07 1/1 pp. 27-28 pars. 9-12)

“Quando é que se daria essa ressurreição celestial dos cristãos ungidos fiéis? A Bíblia indica que ela já começou. O apóstolo Paulo explicou que eles seriam ressuscitados ‘durante a presença de Cristo’, presença essa que começou no ano de 1914. (1 Coríntios 15:23) Agora, quando os ungidos fiéis terminam a sua carreira terrestre, durante a atual “presença” de Cristo, não precisam permanecer mortos até a volta de seu Senhor. Assim que morrem, são ressuscitados em espírito, sendo “mudados, num momento, num piscar de olhos”. (wt cap. 9 p. 84 par. 10)
Aprendi ainda que:
Em 1918, Jesus, “o mensageiro do pacto” [Jesus], havia chegado ao templo espiritual de Jeová para inspecionar e purificar a congregação de Deus” (w04 1/3 p. 14 par. 8)

Jesus começou a sua inspeção em 1918. Perderam a oportunidade de ser inspecionados? De forma alguma. A inspeção começou apenas em 1918/19, quando o escravo fiel e discreto passou pela prova como classe. Os individuais cristãos ungidos continuam a ser inspecionados até que a sua selagem seja permanente” (w04 1/3 p. 17 par. 19).

“Visto que o “amo” [Jesus] o chegou para inspeção em 1919, encontrou o restante deste corpo fiel e discretamente distribuindo “mantimentos”, ele o designou “sobre todos os seus bens”. (Lucas 12:42-44) Os fatos mostram que desde 1919 este “mordomo” tem cuidado fielmente desses “bens””
“Especialmente desde o restabelecimento da adoração pura em 1919 é que os do povo feliz de Jeová têm motivo para “riso”. Compartilharam, em sentido espiritual, a emoção dos que retornaram de Babilônia no sexto século AEC” (w99 1/10 p. 8 parágrafo 14)
As citações acima mostram que além do ano de 1914, os anos 1918 e 1919 também possuem grande significado para as Testemunhas. Afirmam que além de começar a ressurreição de cristãos ungidos por espírito santo, em tal época, Jesus inspecionou a congregação de Deus em cumprimento de Malaquias 3:1 e designou o “escravo fiel e discreto” “sobre todos os seus bens”. Ainda segundo crêem as Testemunhas, em 1919 a adoração verdadeira foi restaurada.

Ao invés de aceitar e simplesmente reproduzir como papagaio os ensinos da Torre de Vigia, agi em harmonia com o que é aconselhado no livro Verdade que Conduz a Vida Eterna, pág 13 parágrafo 5:
“Precisamos examinar não só o que nós mesmos cremos, mas também o que é ensinado pela organização religiosa com que talvez nos associemos. Estão seus ensinos em plena harmonia com a Palavra de Deus ou baseiam-se em tradições de homens? Se amarmos a verdade não precisamos temer tal exame”
Ao fazer um exame bíblico profundo concernente a tais pontos doutrinários minha mente encheu se de indagações tais como:

1
· Se Cristo retornou de maneira invisível em 1914 por que o vocabulário empregado nas escrituras não dá a entender isso de maneira clara, mas sim, justamente o contrário, ou seja, uma volta visível? Mateus 24:30 diz: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se baterão então em lamento, e verão o Filho do homem vir nas nuvens do céu, com poder e grande glória” (Veja também Marcos 13:26 e Lucas 21:27). Hebreus 9:28 fala “na segunda vez que ele aparecer”. Hebreus 6:14 faz referência “a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (Veja também 1 Pedro 5:4). 1 de João 3:2 fala de quando “ele [Jesus] for manifestado”. Revelação (Apocalipse) 1:7 diz que “Ele vem com as nuvens e todo olho o verá e aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra baterão em si mesmas por causa dele”. 

As Testemunhas de Jeová tentam explicar tal passagem bíblica ensinando que a vinda de Jesus em 1914 foi vista com os olhos do entendimento, ou seja, cristãos sinceros perceberam a sua chegada. No entanto, uma breve análise da História conforme relatada pela própria Torre de Vigia no livro Proclamadores deixa claro que não houve em 1914 tal “olho do entendimento”, pois, em tal época se acreditava e ensinava que a parousia (Vinda invisível de Cristo) já tinha ocorrido em 1874 e a ressurreição em 1878. O que se esperava para 1914 era o fim do atual sistema de coisas. As datas de 1874 e 1978 foram abandonadas posteriormente, o que era ensinado em relação a elas, anos mais tarde passou a ser aplicado a 1914 e a 1918, ou seja, o ensino anterior mostrou-se falso e teve sofrer alterações. O que era extensivamente divulgado como verdade absoluta, mudou. Se a Torre de Vigia reconhece hoje que errou ao fixar datas como 1874 e 1878, será que não errou também ao fixar 1914 e 1918? 

2
· A Torre de Vigia ensina que com o fim dos sete tempos dos gentios, em cumprimento do capítulo 12 de Revelação (Apocalipse) Jesus iniciou seu governo, sua primeira ação foi expulsar o Diabo do céu, o mundo entrou nos últimos dias e a Terra passou a sofrer ais como guerras, fomes e pestilências. “Este relato [Revelação capítulo 12] lança a culpa pela Primeira Guerra Mundial, que ceifou mais de 8 milhões de vidas humanas, a partir de 28 de julho de 1914, diretamente sobre o Diabo e seus demônios. O cavaleiro no segundo cavalo simbólico retrata as hostes militares do mundo do qual Satanás, o Diabo, é “o deus”; e o cavalo cor de fogo correspondia à fúria e natureza ardente daquela guerra e de sua sequência, a Segunda Guerra Mundial”. (w83 15/11 pp. 22-23 parágrafo 6). No entanto, a Torre de Vigia também ensina que “Em 2 de outubro de 1914, Charles Taze Russell, então presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, de Pensilvânia, EUA, anunciou denodadamente: “Os tempos dos gentios terminaram; seus reis já tiveram o seu dia.” Quão verazes se mostraram as suas palavras! Invisível para os olhos humanos, em outubro de 1914, ocorreu no céu um evento de tal importância, que abalou o mundo. Jesus Cristo, Herdeiro permanente do “trono de Davi”, iniciou seu governo como Rei sobre toda a humanidade” (w92 1/5 p. 6). Em outra A Sentinela está escrito que “o fim dos Tempos dos Gentios, [aconteceu] por volta de 4 de outubro de 1914” (w73 1/5 p. 268 parágrafo 5). 

Percebeu a incoerência? A Torre de Vigia ensina que Jesus iniciou seu governo como rei em outubro de 1914, o Diabo, foi então expulso do céu e juntamente com os demônios sãos responsáveis diretos pela Primeira Guerra Mundial que reconhecem ter iniciado em julho de 1914. Ora, se a Primeira Guerra constitui parte dos preditos sinais para os últimos dias, que começaram a partir de outubro de 1914, por que ela se iniciou em julho de 1914 se os últimos dias só começaram três meses depois? Assim, é insustentável por meio da Bíblia e da história secular a crença de que em desafio à entronização de Jesus como rei em outubro de 1914, o Diabo tenha fomentado a Primeira Guerra Mundial. Pois, de acordo com a Torre de Vigia nesse período ele teria iniciado a guerra no Céu contra “Miguel e seus anjos”. Posteriormente, quando perdeu a batalha e foi expulso para a terra, concluímos que ele aqui chegou atrasado, pois a Primeira Guerra já havia começado desde 28 de Julho de 1914.

 3

· Revelação [Apocalipse] fala sobre quatro cavaleiros. O que estes representam? 
 
Em relação ao cavaleiro no primeiro cavalo observado na visão o livro Revelação Seu Grandioso Clímax Está Próximo interpreta que “Jesus revela como ele mesmo, qual Rei recém-coroado, sai com ímpeto para guerrear no tempo designado por Deus” (re cap. 16 p. 90 par. 4). 

Quanto ao segundo cavalo é dito: “não há dúvida do que retrata: guerra! Não a guerra justa e vitoriosa do Rei vencedor de Jeová, mas guerra cruel, internacional, criada pelo homem, com derramamento de sangue e dor desnecessários”. (re cap. 16 p. 93 par. 14). Outra publicação aplica a cavalgada do segundo cavaleiro ao “irrompimento de guerra [a começar com a Primeira Guerra Mundial], e isso em escala mundial, visto que o cavaleiro no cavalo cor de fogo havia de “tirar da terra a paz”. (w83 15/11 pp. 22-23 parágrafo 4) 

Referente a cavalgada do terceiro cavaleiro é ensinado que “É bem evidente que isso indica escassez de víveres, falta de comestíveis. E não acompanhou isso a Primeira Guerra Mundial, “num lugar após outro”? Com a retirada dos lavradores da sua lavoura e de suas hortas, para serem incorporados nas forças armadas compostas de milhões de homens, não se estenderia a fome sobre uma grande área, havendo pouco ou nada para satisfazê-la? Logicamente que sim! Não é de admirar que milhões de humanos morreram de fome. Os preços dos gêneros alimentícios aumentaram vertiginosamente acima dos meios financeiros do incontável número de famintos, em vista de tal inflação!” (w83 15/11 p. 23 par. 9).

Por fim, em relação a cavalgada do último cavaleiro, é dito que “simboliza algo que varreu a superfície da terra, causando a morte de 20 milhões de pessoas em 1918-1919, no fim da Primeira Guerra Mundial... uma doença contagiosa que se espalha sobre uma grande região habitada, significando a interrupção rápida da vida de suas muitas vítimas. E não se enquadra a “influenza”, a gripe espanhola, que sobreveio ao mundo no fim da Primeira Guerra Mundial nesta descrição? Certamente que sim”! 

Ponderemos um pouco. 1º - Se Jesus Cristo começou a reinar em outubro de 1914 (cavalo branco), 2º - a partir de 28 de Julho de 1914 houve a Primeira Guerra Mundial (cavalo vermelho), 3º - a guerra gerou falta de comestíveis (cavalo preto) e 4º - em 1918-1919 houve a gripe espanhola (cavalo descorado), por uma questão de lógica e coerência, não estão os cavalos cronologicamente fora da sequência correta? Para que o ensino da Torre de Vigia fosse harmônico com o que diz as Sagradas Escrituras, Revelação capítulo 6 deveria alistar a cavalgada dos 4 cavaleiros na seguinte ordem:

1º Cavalo Vermelho (Guerra – Julho de 1914) 

2º Cavaleiro Branco (Jesus como Rei – Outubro de 1914) 

3° Cavalo Preto (falta de alimentos - a partir de outubro de 1914) e por fim, 

4° Cavalo Descorado (Gripe espanhola – a partir de 1918). 

Desta forma percebemos que o que creem as Testemunhas de Jeová não se harmoniza com fatos documentados pela história secular e muito menos com a Palavra de Deus.

4

· Por que orar “Venha o Teu Reino” (Mateus 6:10) atualmente, se ele já veio em 1914?

5



· 1 Coríntios 11:26 indica que a “Refeição Noturna do Senhor” (Comemoração da Morte de Cristo ou Santa Ceia) deveria ser feita “até que ele [Jesus] chegue”. Se ele chegou em 1914, por que as Testemunhas ainda realizam tal celebração nos tempos atuais todo o ano?


6
· Por que as Testemunhas de Jeová ensinam que com a Vinda de Cristo em 1914 entramos nos últimos dias e as coisas tendem a piorar desde então, sendo que Atos 3:19 a 21 indica que com a vinda de Cristo haveria o “restabelecimento de todas as coisas”? Logicamente concluímos que se ainda não ocorreu a restauração de todas as coisas é por Cristo não se fez presente nem em 1874 e nem em 1914.

7

· Se os adeptos da Torre de Vigia acreditavam até 1928, que a Grande Pirâmide de Gizé revelava datas de eventos futuros, comemoravam o Natal até 1926, usavam uma cruz e coroa como símbolo identificador até 1928, criam até 1936 que Cristo havia morrido em uma cruz e comemoravam aniversários natalícios e natal até 1928, como pôde Jesus ter os considerado ‘fiéis e discretos’ e dado lhes a importantíssima responsabilidade de cuidar de “todos os seus bens” em 1919, se na época eles estavam aviltados por várias crendices e costumes considerados pagãos? 

8

· Como se pode dizer que a adoração pura foi restaurada em 1919, se em tal época as crenças dos Estudantes da Bíblia incluíam diversos costumes pagãos? Ou será que as Testemunhas de Jeová aceitam o uso da cruz, a piramidologia, comemorações de natal e aniversários como “adoração pura”?






Quadro nas páginas 200, 201 do livro Proclamadores:



Práticas que foram abandonadas
  • Esta foi a sua última celebração do Natal no Betel de Brooklyn, em 1926. Os Estudantes da Bíblia chegaram a reconhecer aos poucos que nem a origem desse feriado nem as práticas associadas com ele honravam a Deus.
  • Por muitos anos, os Estudantes da Bíblia usavam uma cruz e coroa como insígnia para os identificar, e esse símbolo achava-se na capa da “Watch Tower” de 1891 a 1931. Mas, em 1928, sublinhou-se que não um símbolo decorativo, mas sim a atividade de alguém como testemunha indicava que ele era cristão. Em 1936, apresentou-se a evidência de que Cristo morreu numa estaca, não numa cruz com duas vigas.
  • No seu livro “Daily Manna” (Maná Diário), os Estudantes da Bíblia guardavam uma lista de aniversários natalícios. Mas, depois de terem abandonado a celebração do Natal e quando compreenderam que as celebrações de aniversários natalícios davam indevida honra a criaturas (um dos motivos de os primitivos cristãos nunca celebrarem aniversários natalícios), os Estudantes da Bíblia abandonaram também esse costume.
  • Por uns 35 anos, o Pastor Russell pensava que a Grande Pirâmide de Gizé fosse a pedra de testemunho de Deus que confirmava períodos bíblicos. (Isa. 19:19) Mas as Testemunhas de Jeová abandonaram a idéia de que uma pirâmide egípcia tenha algo que ver com a adoração verdadeira. (Veja os números de 15 de novembro e de 1.° de dezembro de 1928 da “Watchtower”.)





Qual é a base para 1914?
De todos os anos “proféticos” das Testemunhas de Jeová, 1914, é sem sombra de dúvidas, considerado como sendo o mais importante. 

De onde surgiu a ideia de que tal ano tem um significado especial na profecia bíblica? Vejamos a explicação dada pelas Testemunhas conforme consta no livro Raciocínios, páginas 110-112:



“Leia Daniel 4:1-17. Os versículos 20-37 mostram que essa profecia teve cumprimento em Nabucodonosor. Mas ela tem também um cumprimento maior. Como sabemos isso? Os versículos 3 e 17 mostram que o sonho que Deus deu ao Rei Nabucodonosor tem que ver com o Reino de Deus e a promessa de Deus de dar tal reino “a quem [Ele] quiser . . . até mesmo [ao] mais humilde da humanidade”. A inteira Bíblia indica que o propósito de Jeová é que o seu próprio Filho, Jesus Cristo, qual representante Seu, governe a humanidade. (Sal. 2:1-8; Dan. 7:13, 14; 1 Cor. 15:23-25; Rev. 11:15; 12:10) A descrição que a Bíblia faz de Jesus revela que ele era de fato “o mais humilde da humanidade”. (Fil. 2:7, 8; Mat. 11:28-30) O sonho profético, portanto, aponta para o tempo em que Jeová daria o governo da humanidade a Seu próprio Filho.

O que aconteceria no ínterim? O governo sobre a humanidade, representado pela árvore e seu toco, teria “coração de animal”. (Dan. 4:16) A história da humanidade seria dominada por governos que manifestariam características de feras. Nos tempos atuais, o urso é comumente usado para representar a Rússia; a águia, os Estados Unidos; o leão, a Grã-Bretanha; o dragão, a China. A Bíblia também usa feras para simbolizarem governos mundiais e também o inteiro sistema global de governo humano sob a influência de Satanás. (Dan. 7:2-8, 17, 23; 8:20-22; Rev. 13:1, 2) Conforme Jesus mostrou na sua profecia que indica a conclusão do sistema de coisas, Jerusalém seria “pisada pelas nações”, até que se cumprissem “os tempos designados das nações”. (Luc. 21:24) “Jerusalém” representava o Reino de Deus, porque, quanto aos seus reis, falava-se deles que se assentavam no “trono do reinado de Jeová”. (1 Crô. 28:4, 5; Mat. 5:34, 35) Assim, os governos gentios, representados por feras, ‘pisariam’ o direito do Reino de Deus de dirigir os assuntos humanos, e eles mesmos governariam debaixo do controle de Satanás. — Compare com Lucas 4:5, 6.
Por quanto tempo tais governos teriam a permissão de exercer tal controle antes que Jeová desse o Reino a Jesus Cristo? Daniel 4:16 diz “sete tempos” (“sete anos”, ABV, AT, Mo, também BJ, nota ao pé da página sobre o versículo 13 ). A Bíblia indica que, nos cálculos de tempos proféticos, um dia é computado como um ano.
(Eze. 4:6; Núm. 14:34) Por conseguinte, quantos “dias” temos aqui? Revelação 11:2, 3 indica claramente que 42 meses (3 1⁄2 anos) naquela profecia equivalem a 1.260 dias. Sete anos seriam o dobro disso, ou 2.520 dias. Aplicando-se a regra de “um dia por um ano”, temos 2.520 anos.
Quando começou a contagem dos “sete tempos”? Depois que Zedequias, o último rei no típico Reino de Deus, foi destronado em Jerusalém pelos babilônios. (Eze. 21:25-27) Por fim, no início de outubro de 607 AEC, apagou-se o último vestígio da soberania judaica. Naquela época, Gedalias, o governador judeu empossado pelos babilônios, já havia sido assassinado e os judeus remanescentes haviam fugido para o Egito. (Jeremias, caps. 40-43) A fidedigna cronologia bíblica indica que isso ocorreu 70 anos antes de 537 AEC, ano em que os judeus retornaram do cativeiro — isto é, ocorreu em princípios de outubro de 607 AEC. (Jer. 29:10; Dan. 9:2; para mais detalhes, veja o livro “Venha o Teu Reino”, páginas 186-190.)
Como é, então, calculado o tempo até 1914? Contando-se 2.520 anos a partir de princípios de outubro de 607 AEC, chegamos a princípios de outubro de 1914 EC, conforme demonstrado no gráfico.
COMO SE CALCULAM OS “SETE TEMPOS”



Sete tempos” = 7 X 360 = 2.520 anos
Um “tempo” ou ano bíblico = 12 X 30 dias = 360. (Rev. 11:2, 3; 12:6, 14)
No cumprimento dos “sete tempos”, cada dia equivale a um ano. (Eze. 4:6; Núm. 14:34)

Princípios de outubro de 607 AEC a 31 de dezembro de 607 AEC
=
1/4 de ano.
1.° de janeiro de 606 AEC a 31 de dezembro de 1 AEC
=
606 anos.
1.° de janeiro de 1 EC a 31 de dezembro de 1913
=
1.913 anos.

1.° de janeiro de 1914 a princípios de outubro de 1914
=
3/4 de ano.
Total:     
2.520 anos




O que aconteceu nesse tempo? Jeová confiou o governo da humanidade ao seu próprio Filho, Jesus Cristo, glorificado nos céus. — Dan. 7:13, 14”. (rs p. 110 par. 3 - p. 112 par. 1)
Se é assim, por que ainda tanta iniqüidade na terra? Depois que Cristo foi entronizado, Satanás e seus demônios foram lançados dos céus para a terra. (Rev. 12:12) Cristo, na qualidade de rei, não passou a destruir de imediato a todos os que se recusaram a reconhecer a soberania de Jeová e a si próprio qual Messias. Em vez disso, como ele predissera, seria realizada uma obra mundial de pregação. (Mat. 24:14) Qual rei, dirigiria a separação de pessoas de todas as nações, concedendo-se àqueles que se revelassem justos a perspectiva de vida eterna e os iníquos sendo consignados ao decepamento eterno na morte. (Mat. 25:31-46) No ínterim, prevaleceriam as muitas dificuldades preditas para os “últimos dias”. Conforme delineado sob o tópico “Últimos Dias”, esses acontecimentos têm estado em clara evidência desde 1914. Antes que os últimos membros da geração que já existia em 1914 desapareçam do cenário, todas as coisas preditas ocorrerão, inclusive a “grande tribulação”, na qual será eliminado o presente mundo iníquo. — Mat. 24:21, 22, 34.
Se lermos na íntegra Daniel capítulo 4, perceberemos que trata-se de uma profecia referente ao Rei Nabuconosor, que cumpriu nele mesmo, em seus dias, e teve a duração literal de 7 anos (Os 7 anos de loucura de Nabucodonosor).

Em contraste, a Torre de Vigia ensina que tal profecia teve um cumprimento maior. A fim de embasar tal teoria, ensina que os 7 tempos são 2520 anos contados a partir de uma data retroativa ao tempo do seu proferimento ( 607 A . E. C[1]). Isso sempre me pareceu estranho, pois, a data de partida para início de uma profecia bíblica sempre se conta a partir do seu pronunciamento e nunca antes. Além disso, quando em Lucas 21:24 lemos que “Jerusalém será pisada pelas nações, até se cumprirem os tempos designados das nações”, claramente observamos que o evangelista se referia a um evento futuro e não a algo que já tinha iniciado desde 607 A.E.C. Mas, o ponto que considero mais importante e que mostra uma falha histórica gravíssima na cronologia que a Torre de Vigia tenta sustentar, é o fato de que o ponto de partida (a data 607 A.E.C.) não tem apoio historiográfico nenhum. Pois, as várias fontes de pesquisa disponíveis que datam a desolação de Jerusalém, são unânimes em mostrar que ela ocorreu não em 607 A.E.C. e sim em 586 A.C. Por exemplo, a Wikipédia diz sobre o ano 586 AEC: "O Rei Nabucodonosor queima o Templo de Salomão, depois de três ondas de ataques que se iniciaram em 606 a.C. durante as quais os babilônicos destroem a cidade de Jerusalém." (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/586_a.C) Este pormenor é de suma importância, pois, se Jerusalém não foi desolada em 607, isto nos leva ao fato de que Cristo não voltou em 1914. Se Cristo não voltou em 1914, isto nos faz entender que ele não fez a inspeção em 1918. Se ele não fez a inspeção em 1918, então ele também não designou o escravo fiel sobre todos os seus bens em 1919. Se ele não designou o escravo em 1919, concluímos então que ele não restabeleceu a adoração verdadeira em 1919. Percebeu? A falta de evidência histórica que comprove a desolação de Jerusalém em 607, faz cair por terra todo o conjunto doutrinário construído e ensinado pela Torre de Vigia em relação a muitas datas “proféticas”. 

Uma das fontes que mostram que Jerusalém foi desolada em 586 é conhecida como “Cânon de Ptolomeu”. A fim de desacreditá-lo a Torre de Vigia publicou na revista Despertai!:
“A data de 586 A . E. C. baseia-se primariamente no que é conhecido como “Cânon de Ptolomeu”, que atribui um total de 87 anos à dinastia iniciada com Nabopolassar e terminada com Nabonide, com a queda de Babilônia em 539 A . E. C. Segundo este Cânon, os cinco reis que regeram neste período foram Nabopolassar (21 anos), Nabucodonosor (43 anos), Evil-Merodaque (2 anos), Neriglissar (4 anos), e Nabonide (17 anos). Em harmonia com o número de anos assim designados a cada regente, a desolação de Jerusalém no décimo oitavo ano de Nabucodonosor (décimo nono ano se contarmos de seu “ano de ascensão”) cairia em 586 A . E. C. — 2 Reis 25:8; Jer. 52:29.
Mas, quão fidedigno é o Cânon de Ptolomeu? Em seu livro, The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings (Os Misteriosos Números dos Reis Hebreus), o Professor E. R. Thiele escreve:



“O cânon de Ptolomeu foi preparado principalmente para fins astronômicos, e não históricos. Não pretendia fornecer uma lista completa de todos os regentes, quer de Babilônia, quer da Pérsia, nem o mês ou dia exatos do princípio de seus reinados, mas era um expediente que tornava possível a localização de certos dados astronômicos, então disponíveis, num amplo plano cronológico. Os reis cujos reinados tinham menos de um ano e que não abrangiam o dia de Ano Novo não foram mencionados.” (O grifo é nosso.)
Assim, a própria finalidade do Cânon torna impossível por meio dele o datar absoluto. Não há meio de assegurar-se de que Ptolomeu estivesse correto ao atribuir certo número de anos a vários reis. 

No entanto, se o Cânon de Ptolomeu não merece credibilidade, por que a Torre de Vigia usa-o como autoridade a fim de estabelecer outras datas para eventos bíblicos? Por exemplo, a fim de provar que Babilônia caiu em 539, fui publicado na revista A Sentinela:



“Também outras fontes, inclusive o cânon de Ptolomeu, indicam o ano 539 A . E. C. como a data da queda de Babilônia” (w71 15/11 p. 700).
Se pensarmos que o Cânon de Ptolomeu está errado em atribuir o ano 586 para a desolação de Jerusalém, podemos pensar também que ele está errado em atribuir 539 para a queda de Babilônia.
Entretanto a veracidade do Cânon de Ptolomeu é comprovada por outra fontes. O livro Certificai-vos de Todas as Coisas cita as seguintes fontes como autoridades para provar que a queda de Babilônia ocorreu em 539 e que o Decreto de Ciro autorizando o retorno dos judeus cativos ocorreu em 537:
  • The Encyclopaedia Americana , Vol. III. Pág. 9 (ed. 1956).
  • Jack Finegan, Light From the Ancient Past, págs. 227-229 (ed. 1959).
  • James B. Pritchard, Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament, pág. 306 (ed. 1995).
  • Wener Keller, E a Bíblia Tinha Razão..., páginas 264 e 265 (São Paulo, ed. 1958).
Todas as mesmas fontes citadas pela Torre de Vigia que indicam as datas 539 e 537, mostram também, sem exceção, que Jerusalém foi desolada em 586 e não em 607. Observe o que diz uma de tais fontes:
“...Nabucodonosor retornou, destruiu Jerusalém e o templo e levou os judeus para Babilônia em 586 A.C”. (The Encyclopaedia Americana, Vol. XVI, página 3).
Desta forma, percebemos a fragilidade no argumento da Torre de Vigia referente a acontecimentos grandiosos a partir de 1914. Tais ensinos não são verdades divinas. São antes, heranças doutrinárias que fazem parte da tradição das Testemunhas de Jeová. Tal fato me faz lembrar as palavras de Jesus em Mateus 15:6: “E assim invalidastes a palavra de Deus por causa da vossa tradição”.

[1] A. E. C. Significa “Antes da Era Comum”. É a sigla usada pelas Testemunhas de Jeová quando se referem a eventos ocorridos antes de Cristo (a. C.)

CONCLUSÃO 



Quando há pessoas em grave perigo, duma fonte de que não suspeitam, ou quando são desencaminhadas por aqueles que consideram ser seus amigos, será que é desamoroso adverti-Ias? Talvez prefiram não acreditar na advertência. Podem até mesmo ressentir-se dela. Mas livra isso alguém da obrigação moral de dar tal advertência”? - Revista A Sentinela, 15 de julho de 1974, página 419.


“Não é forma de perseguição religiosa alguém dizer e mostrar que a religião de outrem é falsa. Não é perseguição religiosa uma pessoa informada expor publicamente uma religião falsa, permitindo assim que outros vejam a diferença entre a falsa religião e a verdadeira... é um serviço público em vez de perseguição religiosa, tendo a ver com a vida eterna e com a felicidade do povo." - Revista A Sentinela, 15/5/64, página 304, parágrafo 3.
Considero-me inteiramente responsável por cada palavra que escrevi. Estou apercebido das duras consequências em pensar diferente da Torre de Vigia. No entanto, é meu dever e obrigação usar o conhecimento que adquiri em benefício de outros, alertando-os concernente ao engano, controle mental e manipulação que uma organização que se diz religiosa, ou melhor, proclama-se como canal de comunicação entre Deus e homens exerce sob os seus membros que de forma abnegada e ingênua obedece cegamente às suas instruções crendo que estas são indispensáveis à salvação. 

Não posso contribuir para que permaneçam na ignorância. Estou apenas disponibilizando informações, o que cada um fará caso tenha acesso a tais é de responsabilidade estritamente individual. O livre arbítrio manifestado na liberdade de escolha e tomada de decisão de cada um deve ser respeitado.

Caso alguém ache que eu deva me retratar do que escrevi, faço minhas as palavras as palavras finais de Lutero ao fazer sua defesa na Dieta de Worms, Alemanha, em abril de 1521:
“A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo raciocínio evidente (pois não acredito tão-somente no papa nem nos concílios, já que está claro que eles têm frequentemente errado e contradito uns aos outros), estou preso às Escrituras que citei e a minha consciência se mantém cativa da Palavra de Deus; e, como não é seguro nem direito agir contrário à consciência, eu não posso e não quero retratar-me de coisa alguma. Aqui me detenho; não posso fazer outra coisa; que Deus me ajude. Amém”.

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