O restaurante

Numa cidade de cerca de 40 mil habitantes há um restaurante frequentado por cerca de 80 pessoas do município. Algumas delas fazem as suas refeições diárias em tal estabelecimento já por 40 anos, outras há 30, algumas há 20, muitas há 10, outras há 5 e algumas há menos de 5 anos ou por apenas alguns meses. Todos estes, são proibidos pela administração do restaurante a se alimentarem em outros estabelecimentos. Muitos dos jovens que pertencem ao grupo alimentam neste local desde que nasceram.

Embora NUNCA tenham experimentado o alimento servido em qualquer outro restaurante, afirmam com convicção que a o alimento servido pela linha de restaurantes a que estão acostumados é o melhor alimento servido em toda a Terra e que outros restaurantes servem alimentos não nutritivos e prejudiciais à saúde. Tais jovens sentem muito orgulho em dizer aos colegas que tal linha de restaurantes está presente em 239 países e territórios ao redor do globo.

Influenciado pela propaganda feita pelo grupo, um morador da cidade resolve visitar o famoso restaurante. Fica impressionado com a recepção calorosa que teve. Todos o cumprimentam. Pelo semblante dos presentes fica a impressão que não passam pelos problemas da vida diária. Pois, sorrisos estão estampados em seus rostos. Depois de visitar o restaurante sem compromisso por cerca de 6 meses, convencido da qualidade do alimento servido, resolve juntar-se àquele grupo assumindo o compromisso de que a partir daquele momento em diante, até o resto de sua vida, não mais se alimentar em outros estabelecimentos.

O tempo passa... Um belo dia o homem encontra um fio de cabelo em sua comida. As pessoas juntas à mesa raciocinam com ele da seguinte forma: “O restaurante é muito bom, mas temos de reconhecer que ele é dirigido por pessoas e pessoas são imperfeitas, portanto não podemos esperar perfeição”. O homem convencido pelos argumentos apresentados, procura desviar sua mente do incidente e esquecê-lo.

Alguns meses depois, uma mosca morta é encontrada em sua refeição. Os demais presentes à mesa utilizam o mesmo argumento anterior, decorado e repetitivo: “O restaurante é muito bom, mas temos de reconhecer que ele é dirigido por pessoas e pessoas são imperfeitas, portanto não podemos esperar perfeição”. Neste momento o homem desconfia de que alguma coisa parece estar errada e resolve investigar dentro da própria instituição.

Aproveitando um dia em que não havia muito movimento no restaurante, percebe que a porta da cozinha onde são preparadas as refeições está um pouco aberta e resolve espiar. Fica chocado ao perceber que nenhuma das cozinheiras (todas com cabelo comprido) usa qualquer cobertura para a cabeça (entende então o porquê de ter encontrado cabelo na comida). Percebe também haver um banheiro dentro da cozinha e que depois de fazer as necessidades fisiológicas elas não lavam as mãos. Nota ainda que a cozinha não tem nenhum sistema de ventilação, assim vê muitas e muitas moscas sobrevoando e assentando nos alimentos. A partir desse dia ele passa a questionar consigo mesmo referente a qualidade do alimento servido e sente o dever de fazer algo para mudar aquela situação desconhecida para a maioria dos frequentadores do restaurante.

Imaginando que os administradores desconhecessem o funcionamento da cozinha, procura dois amigos mais velhos e experientes que serviam no restaurante há muito tempo como garçons e expõe o que havia descoberto. Assegura-lhes que não pretende abandonar o restaurante, mas que deseja escrever uma carta aos administradores sugerindo algumas mudanças positivas. Tais “amigos mais velhos e experientes”, não acreditam nas palavras do homem, concluem que se trata de uma calúnia e o denunciam aos gerentes. Estes por sua vez, enviam um comunicado ao homem dizendo que precisam urgentemente reunir com ele. E assim procedem posteriormente.

Em uma reunião à portas fechadas, é pedido a ele que conte o que havia descoberto. Ele conta. Perguntam-lhe se ele havia falado sobre isso com mais alguém. Ele responde dizendo que havia conversado com dois amigos de confiança. Os gerentes solicitam ao homem que se retire por um momento e na sua ausência conversam entre si sobre a situação. Alguns minutos depois, chamam-no novamente e dizem: “Nós concluímos que o que você expôs não procede, conhecemos bem o funcionamento do restaurante. Além de você ter praticado algo muito ruim, que é calúnia, fez uma coisa pior ainda que foi ferir a consciência de outros, passando à frente tais inverdades. Mas você pode desconsiderar o que falou, procurar a todos os que você comentou sobre o assunto e humildemente dizer a eles que você se enganou, que tudo não passou de um mal entendido que já foi esclarecido e que você não mais pretende falar de tal assunto”.

O homem pensa consigo mesmo, e estando certo que não está louco, sua consciência não o permite compactuar com os gerentes, por isso, discorda que deva proceder de tal forma. Agindo assim, vem o veredicto final: “Então nós decidimos que você não mais fará parte do grupo. Iremos comunicar à todos, após o anúncio eles não mais conversarão com você”. O homem não percebe coerência na atitude tomada, tenta ainda argumentar, mas em vão. Os gerentes cegamente não permitem que ninguém ouse questionar a qualidade do alimento servido.

O anúncio é feito em um dia que o restaurante estava lotado, a maioria não sabia o que tinha acontecido, o homem tenta ao final da reunião explicar a alguns, mas todos lhe viram as costas. A partir daquele dia, amigos que ele tinha em grande consideração por anos, passam a fingir que ele não mais existe, nem se quer o cumprimentam quando o veem.

O homem passa a viajar por outras cidades e investiga diversos outros restaurantes da mesma linha. Só que desta vez, registra por meio de fotos e vídeos suas observações. Sua pesquisa mostra que o problema não era local, era geral. Registra provas irrefutáveis, diversos outros absurdos que estavam pondo em risco a vida de milhões de pessoas em todo o mundo que acreditavam piamente que o alimento servido por aquela linha de restaurantes era o mais saudável que existia. Muitos registros mostravam claramente que uma grande quantidade de alimentos servidos eram requentados ou estavam com data de validade vencida a um, dois ou mais anos. Laudos de exames laboratoriais comprovavam a presença de coliformes fecais em muitos alimentos. O homem percebe que é importante alertar os frequentadores do restaurante, mas os frequentadores do restaurante são proibidos de falar com ele. O que fazer então? Tem a ideia de disponibilizar na internet todos os seus registros, e assim o faz.

Seus antigos amigos passam a divulgar que ele está agindo assim por rebeldia, orgulho e por vingança contra os gerentes que bondosamente só quiseram o ajudar. Os gerentes alertam aos frequentadores do restaurante que não devem dar ouvidos às críticas e que não veem outra alternativa, para a segurança geral do grupo, todos os que acessarem na internet críticas contra a linha de restaurantes, serão também, igualmente expulsos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário